domingo, agosto 13, 2006

Humanidade

Qual o valor de um sorriso? Quanto custa uma relação duradoura e feliz?

Na época em que eu era um menino, eu entendia a palavra "humanidade" como algo brilhante, suntuoso e mágico --- ser humano era ser além de homo era ser omni. E este tudo era perfeito. Impecável e divino como os ideais renascentistas acerca de nossa condição.

De acordo com que eu fui crescendo, no entanto, a minha ingênuidade se mostrou uma inimiga perigosa pra mim. As pessoas não eram tão míticas e maravilhosas quanto eu imaginava, e isso não era culpa de ninguém (o pior de tudo.) Meus primeiros contatos extra-familiares foram os piores possíveis. Ou eu era sincero demais, ou medroso demais. Não interessa. O resultado era sempre catastrófico.

Nitroglicerica. Ácido. Veneno. Essas eram as substâncias que eu podia usar pra analogicamente representar a nova raça que eu tinha encontrado fora dos portões seguros da minha infância. O primeiro momento dessa revelação foi marcado por um nojo e horro fora de qualquer descrição. Eu destetava essa condição, e desejava dia e noite a possibilidade de existir em outro lugar, como outra coisa. "Ser legal", ser especial pra alguém, estabelecer os benditos laços fraternos parecia impossível ou simplesmente surreal demais pra se perder tempo tentando fazer a coisa dar certo. Simplesmente não daria.

Com o advento da espiritualidade na minha vida (digo - da forma que isto me chegou) as perspectivas mudaram. E eu percebi uma coisa muito bizarra: Eu não era a única pessoa que pensava alto e sonhava doces coisas. Isto era um bem comum dos devaneios humanos.

Porém, algo fazia com que as pessoas abandonassem aqueles altos ideais de comportamento e expressão pessoal, e simplesmente mergulhassem na ciclicidade entrópica do comportamento folhetinista - digo: A imitação dos dramas da mídia e dos estereótipos ali sugeridos.

Talvez a diferença entre eu, e aquele certo percentual que me criava mágoas e me colocava na lista dos "cachorros por chutar", era que eu ainda lutava contra o marasmo, tentava manter aquilo de pé, por mais que me custasse o bom convívio e os estreitamentos afetivos. Eu era infexível - Aquilo era o certo e ponto final. Obviamente isso não era a melhor verdade. Mas também não foi uma escolha totalmente errada...

Hoje em dia eu já consigo ter uma estreita percepção do que seria um "ideal" de convivência humana. Os códigos, esta matemática profana que faz com que uma palavra proferida seja compreendida no seu sentid original, não sofrendo perversões.

Porém ainda tenho muitas perguntas sem resposta sobre isso.

E provavelmente muitas pessoas (e SE 'muito' for o contingente desse blog...) desprezarão esse texto como 'mais um achismo de uma pessoa comum'. Mas aos que lerem esse texto, eu faço uma proposta.

Antes de condenar alguém por um erro, antes de lançar alguém no passado e riscar um nome do livro da sua vida; pense no porquê da sua decisão. Esqueça o glamour, esqueça a arte, esqueça a beleza, a vendetta, esqueça tudo. Apenas pense no que será de um laço amigável se tornando um chicote de mágoas e orgulhos feridos. É isto que você quer? Uma vida de desatinos? Uma vida de "não perdôo", "não esqueço" ou "não permito"? Será que o seu julgamento é tão valioso pra não dar uma segunda chance a alguém que erra, mas ainda pode ser um bom amigo?

Cada um tem suas prioridades. E infelizmente o humano ideal, a perfeita humanidade é mais uma utopia sem solução. Pelo menos enquanto a arte for usada pelo mercado pra criar subversão e insegurança.

Virtude não é ser o melhor, é saber o que se é.

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