terça-feira, novembro 19, 2013

Um dia antes da celebração da consciência negra no Brasil eu penso um pouco na minha vida - quando eu era criança, pensei que nunca ia sofrer discriminação, até ouvir "amarelo empombado" e "E.T" da parte de uma qualquer do bairro, que não me chamou muita atenção.

Mais tarde eu ouvi "matuto", ouvi também "pobrinho" ou "carente", até que quando era adolescente "metido com esoterismo" ouvi "macumbeiro", "painho" e "demônio". Em seguida, quando aprendi um pouco mais sobre quem era, ouvi "viado", "baitola", "pacosa" e "menina", e mesmo entre os gays ouvi "passiva", "gótica" ou "bruxinha".

Depois de sair de casa pro Rio, eu não era mais cearense, e sim "nortista", "baiano" ou "paraíba", e por mais que eu insistisse em dizer que eu não conhecia nenhuma dessas regiões, as pessoas não pareciam se importar (afinal tudo o que está ao norte do Rio, é "Bahia").

Em seguida, deixei de ser uma pessoa e me tornei um "estrangeiro" quando comecei à ter uma data em cima de um papel que me dizia quando eu tinha que IR EMBORA de onde eu estava, senão a polícia viria em casa ME EXPULSAR, mas o que mais doeu pra mim nem foi isso, foi saber que, para uma qualquer que trabalha na faculdade, após eu questioná-la sobre porque nunca ninguém sabia de nada na faculdade e culpa era sempre dos alunos, ela me chamou de "o brasileiro", como se eu fosse um tipo de assassino.

Mas a cereja do bolo? A fivela do cinto? Foi ouvir de alguém importante ligado ao Ministério da Cultura na Guiana Francesa que "música clássica é música de branco" e que "isso não interessa a gente aqui".

E o ciclo da besteira, da podridão e da idiotice continua... A gente faz o que pode e diz o que não pode pra se guardar o sagrado direito de odiar e desprezar o próximo. Amém.