sábado, abril 28, 2007

Mais uma vez

E então vou fazer vinte e um anos daqui há menos de um mês.

Não sei porque estou me incomodando tanto com esta data, meus dezoito anos foram carregados de um exagero em preocupações, --- como os de muita gente --- entretanto estes vinte e um estão me tirando do sério.

Parece que, na minha cabeça, só agora mesmo é que eu posso me considerar de maior, (em vários países aí por fora, a maioridade só acontece aos vinte e um), e então a segunda maioridade deve estar me pondo nos extremos.

São todas aquelas questões que nos fazem ver e rever os mapas astrais, jogar e insistir no tarot, rezar à mil deuses para encontrar um bom caminho, porém tudo são dúvidas. Milhares delas.

Preferiria não me perder nas velhas e cansadas projeções, mas me lembro do trecho de um poema que escrevi em torno de 2002 (um ano de cão - não do cão), onde dizia mais ou menos isto:

"E então deixo um final feliz
para aqueles que não se cansam
e talvez não se casam
nem moram numa casa de cerquinha branca
até que a morte os leve para o lugar mais lindo de todos:
A Verdade."
Parece uma sensação de desespero, uma insistente crise existêncial como gostam de pintar os entusiastas do mundo cool¹. Mas não é isto. É uma daquelas questões que exigem reflexão.
A situação é que sinto como se eu não tivesse vinte e um anos². Era como se algo tivesse impedido o tempo de passar, e minha cabeça estivesse tremendamente ocupada pensando em como o mundo, (não simplesmente o meu), deveria ser.
Vivo muito preocupado com a vida alheia. Com a sensação de que as coisas poderiam estar melhores, poderiam ser ideais. Todo esse lance de 'depressão - o mal do século', 'solidão na multidão'.
Sinto como se eu tivesse uma receita milagrosa pros problemas de todo mundo, mas não sei como diluí-la nos sprinklers do mundo.
É uma sensação obcecada de que as coisas precisam ficar bem, e que as pessoas precisam ser felizes violentamente. A coisa é tão séria que morri de chorar hoje enquanto assistia um programa na TV sobre empregadas domésticas e seu estilo de vida³.
Era como se cada uma delas fosse a minha própria mãe, ao mesmo tempo que são todas as pessoas que eu gosto, e eu também. Uma coisa muito desesperadora. Algo como se afogar na dor do universo inteiro.
Pediria-se e muito um pensamento prático e analítico sobre isso, mas sinceramente eu não quero deixar que isto se apague. De alguma forma eu sinto que meu vigésimo primeiro aniversário não vai ser o que a minha cabeça doida queria que fosse, mas uma força ou simplesmente uma paranóia ridícula me força a isto.
Me força à sensação de empatia, de humanização pela minha espécie. Por aqueles que eu amo, e por aqueles que eu desprezo. E se há algo que eu quero aprender é como tocar o coração de cada ser humano, e fazê-los entender como é inexplicável perceber que alguém existe, e que só há aquela pessoa. Única.
Eis o meu delírio: Seja quem você for, esteja onde estiver, goste de quem gostar, odeie quem odiar - mas ame, viva, tenha esperança em si mesmo. Não precise de Deus, não precise de nada nem ninguém, apenas siga, compreenda e ame, ame muito aquilo que lhe for dado. E acima de tudo seja feliz, e viva.
Viva com a sensação visceral que só há um de você em tantos universos ou realidades que puder imaginar. E que você faz parte do impossível - você existe!
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¹: A tendência desses mesquinhos dos movimentos 'Smiligüido, em prol de um mundo em retrocesso', ou dos 'Fodões, fodões' é de não se questionar e reclamar sobre nada. Tudo está irremediavelmente bom, e onde deveria estar - por mais que te incomode ou dôa. O mundo não é cool, eu não tô na moda, nem assisto malhação e bebo refrigerante! (E morra, não jogo tênis!)
²: Não tenho vinte um anos completos ainda. Mas como é hábito de brasileiro, a gente arredonda pra mais.
³: Sobrevida é o mais correto. Como é injusto a vida destas mulheres. Dão o sangue e a vida por patrões que mal lhe assinam as carteiras de trabalho, e cobram a devoção de cães de guerra. Pelo amor de Deus gente, cuidem melhor de seus contratados domésticos. Estas pessoas também são humanas. Não são escravos natos, tem sonhos, tem limites!

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