quarta-feira, abril 18, 2007

Deus

Recebi um comentário no blog hoje, onde havia, além de elogios saudosos ao meu modo de escrever e aos assuntos, --- txn ^^ --- uma observação sobre "falta de Deus", e me senti na obrigação de me colocar a este respeito o quanto antes.

Antes de mais nada quero deixar claro que não concordo em tudo com a idéia do Nihilismo, muito menos me considero seguidor de Platão. Porém, definitivamente não concordo com a idéia cristã/judaica/islâmica de Deus (entidade consciente, manifesta, antropomórfica).

Deus - Criador ou Criatura?
Ok, muitas pessoas virão discutir esse assunto dizendo que Deus é tudo, e Deus é aquilo... Porém a própria linguagem já entrega a contradição: Deus, quem é Deus? "Então Ele disse a Adão" - Ele - Terceira pessoa do singular. Pronto. A concepção básica é esta - Indivíduo de gênero masculino.

Ora mais, quando cito que Deus é criatura, e não criador, estou apenas colocando meu ponto de vista, baseado em fatos do comportamento humano de tornar o mundo ao seu redor compatível com suas expectativas interiores, assim como seus valores e preferências.

Logo o homem deu a este Algo um caráter, uma face e um nome; de fato criando-o a partir de si mesmo. O homem cria o Responsável e se convence inexoravelmente de que as coisas tem um propósito. E este propósito é humano. É compreensível a ele.

Deus enquanto reflexo da humanidade, para mim, é uma deturpação grosseira do funcionamento verdadeiro¹ das coisas. É como tentar reduzir um número complexo a um número real, e ver que a equação não fecha. Então convence-se de algo, cria-se a resposta certa, e dá-se por satisfeito na própria ignorância.

Porém, apesar deste Deus, não ser para mim o Criador - eu sei que Ele existe. Através dos mecanismos e conhecimentos do esoterismo, e mesmo da psicologia, sabemos o poder das egrégoras e da auto-sugestão. Então se alguém acredita piamente em algo, este algo existe. Afinal quem disse que algo precisa ser real para existir²?

Este Deus é uma linguagem - um símbolo de poder, conforto, certeza, e acima de tudo controle. A maior ferramenta humana já criada para controlar a si mesma. Através da certeza de que Deus existe, e é uma entidade com caráter e preferências, haverão aqueles que ferirão e transgredirão a vontade do Todo-Poderoso.

Logo haverá punição. Ora - ponha o medo de uma punição sobrenatural e eterna sobre molestadores, assassinos e maníacos e você verá a eficácia da justiça humana se tornar minguada na frente do medo do desconhecido. Que é pior que qualquer coisa.

(Porém, a receita do medo não vem dando mais certo de uns tempos para cá. Também há aqueles que criam suas versões de anti-Deus e se sentem bem no papel de transgressor divino, mas este não é o assunto.)

Divindade e Gnose
Então com toda esta retórica eu assumo que não acredito em Papai do Céu, e nem que o capeta inspira minhas más ações? Não, não é assim não. Eu acredito em muitas coisas, só acho que "o buraco é mais embaixo".

Antes de tudo, com toda vivência no meio religioso e espiritualista --- espiritualista mesmo! É pra parecer xulo --- posso afirmar que nós, humanos, somos extremamente pretensiosos. Queremos nos insinuar como as formas mais perfeitas de consciência, e queremos dizer que temos contato direto com o Mundo Superior.

A verdade é que ser humano é um estado de solidão impressionante: Somos mamíferos que só se comunicam com a própria espécie. Cães e gatos se comunicam, pássaros das mais diversas espécies se compreendem...

Mas nós, humanos, só falamos humanês; e a nossa dor é tanta, que começamos a dar nossas características ao mundo que nos cerca. Numa tentativa desesperada de nos comunicar com ele. Aí nascem os Deuses, Demônios, Anjos, e toda série de seres mitológicos, mágicos e engraçados.

O ponto é - eu não discordo, nem desacredito em nada disso. Eu sei que o ser humano tem um poder criador incrível. Nossa mente, e toda energia acumulada em uma forma tão complexa, (mas nunca perfeita), como a nossa tem uma capacidade incrível de fazer com que as coisas passem a existir a partir de nada. (E isto conheço como criatividade).

Mas não quero dizer que realidades espirituais, entidades, e tudo mais não existem. Existe sim, porém, de acordo com as nossas impressões. Tudo isto é criação nossa. Uma comunicação foi estabelecida, um código se criou. E as realidades superiores responderam ao chamado.

Depois de tudo isso eu quero que, se houve um impulso criador, se houve um Big Bang e se há uma criança brincando com o formigueiro, isto não nos diz respeito - está fora de nosso controle. Estamos tão perdidos em nossa retórica, em nossos Deuses, diabos e códigos, que não conseguimos mas entender que o universo não é nosso. E sim, que somos mera parte, um mero degrau em seu caminho incansável e inexplicável.

É doloroso pensar assim. Mas um pensamento, (e como tenho fé neste), me conforta: Hoje e nos próximos, talvez, 70 anos³, eu sou humano. Depois disso eu não sei, mas seja o que vier depois deve ser lindo.
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¹: Repare que friso a diferença entre 'verdade' e 'fato'.

²: A primeira vez que ouvi isto, foi do pai de um amigo meu, Marco Aurélio (este é o nome de ambos - pai e filho). O homem é extremamente safo, sábio! Estávamos falando sobre ácido, alucinações, depressão, loucura, e ele soltou esta pérola que me pôs a pensar até hoje. Vou fazer um post só sobre isso quando der.

³: Porque sou otimista.

Um comentário:

Unknown disse...

Comentar sobre blogger,é uma coisa pessoal.Acho mui bom q escreve..