sábado, maio 19, 2007

Parece filme

Direto dos estúdios do...
Ontem, em algum dos telejornais que se vê por aí, houve uma matéria sobre o projeto "Copabacana", que se trata da iniciativa dos moradores do bairro para revitalizar o lugar, e trazer de volta a era de ouro do mesmo, que tanto atraía os turistas antigamente. Rolaram uns dados interessantes:

* Copacabana é o bairro mais conhecido do Brasil;
* Parece que é o bairro mais populoso do Rio;
* Mais da metade dos moradores são de terceira idade.

Então percebe-se que boa parte dos moradores, na realidade, não compraram seus imóveis recentemente, e sim o herdaram, ou compraram na dita era de ouro do Rio de Janeiro.

Fica claro que Copacabana não é bairro pra qualquer um (e parece que o qualquer um tá bem específico).

Assim como o Meireles em Fortaleza, que iniciou um movimento ostensivo de "moradia para estrangeiros".

A idéia é bem simples: Basta construir apartamentos que nenhum brasileiro possa comprar, então começam a vir os gringos.

Convenções imobiliárias a parte, vou ao que me impressionou na reportagem. Uma velhinha, provavelmente bem perto da hora da morte, é líder comunitária do bairro.

A imagem da senhora já assustava: Quilos de maquilagem, cabelo de arranjo floral, e aquelas roupas que só se usa depois dos 60, quando nenhuma outra dá certo.

Então, em um dos blocos da reportagem, comenta-se da senhora "e ela demonstra entusiasmo com o novo projeto".

Como assim, demonstra? Só se for por escrito, porque por expressões faciais é difícil. A única coisa que se via naquele rosto era idade.

Ela falava sobre o projeto, e descrevia o plano de revitalizar a Avenida Atlântica, e isso e aquilo outro.

A reportagem também mostrava outras participantes do projeto (três velhinhas que ficam vigiando a praia de noite das janelas de casa).

O número de assaltos reduziu em trinta por cento no bairro, o que é um triunfo, pois Copacabana está cercada por favelas.

Como uma grande casa de senhorio cercada por estábulos e chiqueiros lotados de escravos.

Porém, o ponto culminante da reportagem foi quando a velha, no quase alto e não tão bom som que sua idade permite, afirmou que "o verdadeiro problema do bairro, na realidade, são os moradores de rua".

Hein?!
Como se as pessoas que não tem onde morar ou simplesmente preferem não subir no morro feio, sujo e perigoso fossem como ervas daninhas em um jardim de petúnias.

Ora gente, por favor, né? Sabemos que o Brasil não é mais o país do futuro, e também sabemos que estamos longe de ser uma nação de primeiro mundo. Nações de primeiro mundo é que tem seus bairrinhos utópicos.

Simplesmente você não pode pedir que as pessoas deixem de morar na rua, seja onde for, se elas não tem para onde ir e como se sustentar fora de onde estão.

E outra coisa: A esmola em Copa deve ser bacana! O número de pessoas que passam ali todos os dias, loucas para pagar cem reais por um suvenir ou olhinhos brilantes deve ser fora de questão.

Também temos a mais legítima ação social carioca: O Criança Esperança. Onde entulham-se milhões de receita não declarada para a Globo e chegam alguns trocados para os pretinhos no morro pularem obstáculos e jogarem bola. Pão e Circo.

Vocês querem uma Copabacana? Querem mesmo acabar com a "feiúra" do seu bairro? Comecem a olhar pros lados e entender porque REALMENTE o problema acontece.

Isso sim se chama RESPONSABILIDADE SOCIAL. Se poucos tem muito, e muitos tem pouco... Não precisa-se pensar muito.

É sabido que em alguns países aí por fora, um dos maiores fatores responsáveis pelo desenvolvimento social, além da iniciativa do governo foi o MASSIVO INVESTIMENTO FINANCEIRO E INTELECTUAL DE ENTIDADES CIVIS E EMPRESAS PRIVADAS.

Gostaria de ter a lista aqui, mas em lugares como Estados Unidos, alguns emergentes da Europa, Ásia... Ao redor do mundo as pessoas não ficam na posição de "lavo as mãos" como no Brasil.

Não adianta sonhar com o Brasil de ontem, se os problemas são de hoje. Deve ser a milésima vez que falo em algum troço assim no blog.

Mas não dá gente, se a Copa que é bacana pouco se fode pra Roça que é só cano, eu não consigo ter simpatia pelo bairro cartão-postal.

Então continuem virando as latas de lixo que caem no chão, limpando calçada, reformando praça... Mas não culpem as vítimas por um problema que vocês não tem direito de atacar.

Se querem morar na areia da praia de qualquer lugar do Brasil, acredito que tenham este direito. Ainda estamos em um país mais ou menos livre.

Assumam os reais que sobram e comecem a pensar em como transformar, com inteligência e solidariedade EFETIVA¹, o nosso país inteiro em um Brasil Bacana.
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¹: A solidariedade não do que dá o peixe, mas que ensina como e onde pescar.

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