terça-feira, maio 08, 2007

O sentimento do tempo

Aos meus finalmente completos vinte e um anos, eu parei pra pensar no que afinal isto significa pra mim.
Eu vivo dizendo que não dou a mínima pra aniversários¹, o problema é que eu ligo pra isso sim, e muito. Porém, como muitas pessoas eu sou frustrado com a data.

Frustrado e neurótico. Em 2005 aconteceu uma coisa muitíssimo triste com alguém da minha família numa data muito próxima ao meu aniversário. E apesar de qualquer coisa é uma pessoa muitíssimo querida pra mim. É uma daquelas tias que sempre liga em aniversário, na realidade sempre liga por qualquer coisa, pra saber como estou, o que estou fazendo...

Na realidade não deveria dizer no presente, e sim no pretérito. Ela ligava. Não liga mais... Sofreu um acidente que a impede de certas autonomias.

E em outros aniversários meus já aconteceram coisas piores, como trotes extremamente ameaçadores e coincidências sinistras. Daí fiquei com a neurinha sobre aniversário.

Este ano infelizmente não teve festinha (raramente tem. Na realidade meu aniversário era mais uma desculpa pro João me arrastar pra comer pizza lá em Fortaleza) ou outra coisa. Foi um dia comum, mas mais frio do que deveria ser... Estava muito, muito frustrado.

Não era uma frustração comum... Era uma coisa como frustração e culpa de ter matado o Papa. E o Papa se chama 'Cronos'.

Ok, eu queria que chuvas de meteoros côr-de-rosa banhassem o céu, e que trombetas celestiais anunciassem meu vigésimo primeiro outono. Sério, queria mesmo. Mas não me dei conta que preciso usar muito LSD pra isso acontecer (e definitivamente esta não é a minha moda, exceto pelo I-Doser, haha).

Daí me frustrei quando percebi o que me frustrava: As projeções.
Quando tinha, sei lá, uns quatorze anos, estava conversando com a minha amada amiga Carol, a Carolzinha, amiga vaca, que me acompanhou na fase mais confusa de um adolescente gay.

Eu estava naquela época de sair de armário, e lá estava ela ao meu lado, sorrindo como uma estátua de Vênus, me dizendo que tudo ia ficar bem, seja lá como fosse.

Então, nesta conversa, estávamos pensando como seria nossa 'adultíce'... E como eu imaginava coisas diferentes... Sonhos taurinos:

Queria estar fazendo alguma faculdade que me desse um desses estágios remunerados legais, e também usar roupinha de playboy e ter malhado durante uns três anos.

E lá estaria eu - com tudo em cima.

Daí eu olhei pra quem eu me tornei... E pensei "puta que pariu, que diabo é isso?"
Fiquei muito perturbado quando observei o que conquistei. Falo insistentemente do MEU patrimônio intelectual principalmente. E eu não tenho qualquer autonomia, qualquer segurança nisso.

Meus próprios valores vivem constantemente abalados com tanta novidade que a vida me mostra... E essa sensação da responsabilidade adulta, da memória do fim, do sentimento do tempo me perturbou demais. Quase me matou.

Era como se eu sentisse culpa por estar vivo. Quando me lembro do que certas pessoas já fizeram por mim, me dá vergonha, remorso de não poder mostrar nada melhor pra elas. E não se trata de auto-piedade, e sim de um sentimento triste de que não sou quem deveria.

Pode-se dizer que eu exijo demais de mim, e desejo coisas impossíveis, mas o que acontece é que eu não sou um gambler, não gosto de dar tiros que não sejam certeiros, não gosto de me sentir na frente de um abismo. A vida já é confusa demais para escolhermos mais e mais caos.

Então pode-se dizer que a falta de certezas, de fatos, e do poder me fizeram perder interesse pelo mundo, de certa forma. Eu me desconectei de mim - hoje percebo isto.

Preciso me sentir útil, querido, integrado, e em constante movimento para frente. Mas me sinto estacionário devido a várias circunstâncias que muitos brasileiros também se encontram. Vivemos em um país cretino sem lugar para sonhadores e suas utopias.

" - Um dia você vai se acostumar com a frustração. De repente vai ficar até bem fácil lidar com ela. O mundo é um lugar muito sem graça, mas você aprende a lidar com isso."

" - Eu não, não sou como você!"
(Mother Pitt e Harper em "Angels in America")

Logo conclui-se que preciso achar uma solução. E até lá preciso ter certeza de que minhas raízes estão firmes, e de que não virão lenhadores acabar com meu barato. Ó vida...
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¹: Como todo bom frustrado eu esqueço do meu pra lembrar bem dos outros. Tenho datas de aniversário e signos ascendentes e lunares de quase todos meus amigos BEM decorados.

Um comentário:

João Filho disse...

Daí eu olhei pra quem eu me tornei... E pensei "puta que pariu, que diabo é isso?"

Frases de efeitos, são assim, tudo... eheheh....