Há muito tempo, na época em que o preto com riscas de giz era o máximo e a beira-mar era toda amarela-alaranjada, um certo papagaio me disse uma coisa que me pôs pra pensar em um assunto. E neste permaneço até hoje.
Existem as pessoas passionais, intuitivas, "automáticas"; e por outro lado existem as calculistas, passivas, cerebrais... Quando eu era mais jovenzinho (porra, eu ainda sou jovenzinho!) eu me sentia extremamente yang, excessivamente 'na lata'. Minha família me descrevia assim, então essa deveria ser a verdade.
Aí a porra do papagaio vem e diz: "Nossa, poucas as pessoas que conseguem ser metódicas como você." Foi uma frase. E nunca mais vi essa ave.
Desde lá eu tenho me observado, e frustrado meus conceitos. Eu sou um poeta! (Jura...) Eu pretendo ser um artista! Passional! Explosivo! Ilimitado! Mas aí retorno à minha condição, à meu espaço invisível. E lá vejo um conjunto de sensações tentando se organizar. Um esboço de razão tentando se definir, algumas vezes sem sucesso. Mas os impulsos raramente são mantidos no estado selvagem. E talvez o que se vê é uma morna feição coberta pela barba mal feita e a sempre presente acne. (Sério, já me acostumei.)
Yin. Escuro. Ordenado como em uma valsa sem quiálteras... Este parece ser o verdadeiro eu. O sorriso confortante está lá, mas por uma razão. Tudo está perfeitamente ordenado e planejado, não existem surpresas. Eu simplesmente sei o que vai se dizer, quem o disse, quem o fez... Inclusive já tenho a reação esboçada. Apesar de tudo me sinto tão feliz quando digo uma besteira, faço algo de errado, sou indelicado, sem modos, sem pudores... É ótimo ser selvagem, egoísta...
Eu vou me lembrar pra sempre de um certo evento que se deu em um lugar não muito distante daqui com pessoas que eu não conheço e não vou conhecer. Pessoas que por orgulho e razão de causa posso dizer que odeio. De forma literal, é claro.
Em um momento de tantos desacertos eu resolvi nadar contra a maré, e tive uma das mais encantadoras lições da vida: Você nunca deve estar sem cartas na manga. Nunca deve estar de braços abertos sem os pés equilibrados. Nunca deve confiar totalmente em algo que não confia em si. E então assim várias portas se fecharam, e muita amargura e indiferença se instalou. E eu não chuto cachorro morto. Só os mortos-vivos.
Mas daí eu abandonei completamente o que seria meu irracional, instintivo, colérico... Não costumo dar os primeiros passos, sempre preciso que algo acenda o fogo. Eu nunca vou, as coisas que vem. E isto não é totalmente eu. Ou será que é?
Experimente contar até dez com um dedo na tomada.
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