sábado, agosto 04, 2007

É isso que dá colocar cavalo pra falar

Detesto - detesto ter que falar do mundo real onde não existe cultura, e onde as massas se degladiam e destroçam seus bodes expiatórios.

Como todos sabem, eu faço parte de uma leva de pessoas revoltadinhas com religião. Entre estas pessoas, a maioria viadinhos e outros marginais que tentam apelar para o inexistente senso do ridículo sobre as ainda vivas práticas de certos cultos aê, pô.

E hoje enquanto eu e ele estávamos num triste momento de morgação televisiva (a falência do livre arbítrio cultural, marca da condição geral no terceiro mundo) nos encontramos com um desses macabros programas evangélicos que varrem a televisão brasileira hoje em dia mais que nunca.

Foi quando percebi que o gritante (porque pastor pra mim é um cara caladinho com um pau na mão tangendo ovelha) era nada menos que Silas Malafaia (ou Silas Maracutaia, como alguns gostam).

O discurso, a princípio, parecia se tratar de um daqueles convencionais sobre "como o demônio rouba seu dinheiro"ou "agradeça a Deus o dinheiro que você tem dando-nos um dízimo¹" - mas não! De repente ele soltou aquela palavra mágica, que vinda da boca de um cristão já me gela a espinha. É como uma maldição... Então ele disse homossexualidade.

Pensei que depois de alguma insistência de nós, as bichas, para abafar o caso Rozângela Justino (vulgo Rozângela Desajuste) alguma coisa boa ia acontecer, e esse pessoal se tocar de que as bichas também são um bom mercado dizimista. Ou não, bicha só gasta no Ponto e no shopping. Não deve ter dado certo.

Foi uma luta pra manter a programação naquele canal, de tão desagradável que era a falação.

O homem era como um predador: O tímbre gutural, sempre imperativo, gritava comandos e morais, dizia, desdizia... Era um horror. No final das contas a reflexão espiritual sobre o homossexualismo (retornando a linguagem da patologia) era de que "o homossexualismo é comportamental. Não é uma coisa genética² como os gays querem dizer - é como o vício em cocaína ou álcool, é algo que se aprende ou se imita." E aquele desenvolvimento Velho-Testamento de sempre seguido por "amém" dos fiéis; naquele climinha mórbido dos templos deles.

Depois de bem mais de sete anos que o homoerotismo não é mais considerado patológico, depois de não-sei-quantas paradas e manifestos, e issos e aquilos ainda temos que conviver com esse fascismo. É triste, é triste...

O que eu me pergunto é: Isso só incomoda a mim? Estou há duas horas procurando a forma mais adequada de xingar esse homem, e algum mecanismo legal para queimá-lo em praça pública.

Não, eu não sou contra a liberdade de expressão. Não faço parte da sociedade secreta e conspiratória das bichas riquíssimas que dominam a mídia em uma realidade alternativa. Sou um cara normal, que é gay, e se incomoda ao extremo com as leis de Moisés interferindo no meu direito de ir e vir na esquina.

ISSO DEVIA SER PROIBIDO! As afirmações altamente especulativas feitas pelo religioso em questão tem caráter subversivo e fascista. Uma pessoa não pode se vestir de ciência em um ponto (para afirmar com razão limitada que o homoerotismo não é encontrado em nenhuma cadeia genética específica) e esquecer-se de outro fundamental (que há vários anos a sociedade psiquiátrica mundial aboliu o termo homossexualismo do quadro de patologias e para todas implicações legais, psíquicas e físicas, homoerotismo NÃO é classificado como doença).

Então chega! Aqui vai uma sugestão, quem quiser vir no bonde que venha: Assim como as ovelhas seguidores da Maior Farsa da História subvertem o real significado da política e criam seus partidos de superstição e subversão; nós, os viados e sapatões deste Brasil também devíamos tomar uma boa dose de vergonha na cara, arregaçar as mangas e mandar umas dúzias pro Palácio do Planalto ir votar umas certas leis.

Vamos sair do armário do poder político e mostrar que a opção ou condição que nos relega ao getto também pode nos levar ao palanque e mostrar nesse país, de uma vez por todas, que gostar de macho sendo macho, ou de cocota sendo mulher é problema nosso, e nosso apenas.

Seja por influência do Cão, por genética, poderes mutantes, oposição de vênus e urano, ser filho desse ou daquele santo; ter sido estuprado na infância, ter nascido no corpo errado ou simplesmente ser quem somos e por acaso sermos gays. E repito: Não há nada de feliz em ser gay. Tem que ser muito, mas muito macho!
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¹: Não se engane, a matemática dos dízimos hoje em dia está longe de 10%. Alguém aí falou em Thiffany's?
²: Como se todos os gays do mundo argumentassem isso. Especulação por especulação, prefiro a conjectura sobre vênus e urano.

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