sábado, fevereiro 10, 2007

Garoto de seis anos arrastado por sete quilômetros num assalto

A criança ficou presa no cinto de segurança, os assaltantes não se deram ao trabalho de remôve-la, e o garotinho foi sendo levado em alta velocidade por sete quilômetros na zona norte do RJ. Quatorze ruas e quatro bairros. Foi uma das mortes mais horríveis que alguém poderia ter.

O agravante é que houve omissão da polícia, e, os moradores e outras pessoas que viram tudo, imploraram, fizeram de tudo pro carro parar. Deve ter sido a visão do inferno. Sinceramente...

Agora, não que eu não ache absurdo o assassinato de um garoto de seis anos de idade segundo filho de uma mãe que, com certeza, deu duro na vida. De uma mãe jovem, provavelmente sonhadora, cheia de projetos pro seu filho...

Mas eu convido a uma reflexão: Por quê? Por que as pessoas fazem isso?

Os responsáveis eram sujeitos jovens, mal tinham saído da adolescência ou ainda estavam passando por ela. Todos magros, esquálidos, desempregados, provavelmente sem o nível básico de estudo completo, e com o agravante muito possível de adicção em drogas. E provavelmente nos sobe-e-desce do morro onde vivem devem ter visto coisas tão ou mais horrorosas do que este inferno que foi noticiado, e não vai sair da mente das pessoas tão cedo. Quiçá nunca - Talvez isso marque mais uma vez o rosto do Rio de Janeiro com sangue e ódio.

Porém continuo me perguntando porque essa notícia assusta mais que a vida péssima que as pessoas da classe pobre vivem. O que me parece é que a compaixão do carioca - do BRASILEIRO, é muito, mas muito tendenciosa. O pretinho, magrelo, marginal é mal por natureza - aspira à penitenciária como um dom profano que lhe assiste desde a hora do nascimento.

Era como se todos fossem maus por opção, por educação (ou falta dela.)

Sinceramente, falando de coração mesmo: Se eu fosse um pé-rapado, discriminado por deus e o diabo pela cor da minha pele, não tivesse dinheiro pra comer, estudar ou ter uma fonte de alegria ou prazer, fosse feio pra caralho e tivesse uma família desiquilibrada, não tivesse conforto, paz nem nada disso, muito facilmente iria procurar um placebo, um anestésico. E logo logo estaria nas drogas, com a facilidade que isto acontece nas favelas, (sejam do Rio ou de qualquer lugar.)

Obviamente eu precisaria de dinheiro pra sustentar meu anestésico - e já que ninguém "lá de baixo" (os brancos ricos, bem-vestidos e sádicos) me dá um emprego, me ajuda a estudar; e além de não se importar comigo ou com os meus, me humilha, me despreza, e o faz com todas as pessoas do meu convívio. Então eu passaria a odiá-los. Eles tem tudo, e fazem muito pouco para tê-lo. Muitos tem todo aquele luxo e toda aquela vida abençoada de nascença. E eu? Então eu iria tomar deles.

É claro que não é só pedir que eles dão. Eles fazem jiu-jitsu, eles tem tazers, seguranças, escutas, carros com blindagem, sprays de pimenta... Eu iria ter que convencê-los a me dar aquele dinheiro. Tanto pra minha erva ou pedra, como para o meu sustento.


Esta é a estrutura: O Brasil, e principalmente representado pela sua mais confusa capital, é um país de desigualdades impressionantes. É um país titânico, de difícil administração. E como o brasileiro ainda permanece com o pensamento da colônia, e não herdou dos gringos nada bom sobre pensamento nacionalista e 'o meu país' (aqui é 'antes que chorem os meus, chorem os seus'.)

Um toma do outro, seja pelos impostos, seja pelo controle do capital intelectual, pela concentração de renda ou pelos AR-15, pistolas, facas, crack, cocaína ou seja qual for o método IGUALMENTE subversivo utilizado pelos moradores de baixo ou de cima.

Lembrando que não estou culpando a capital do Rio de Janeiro por nada disso. De onde venho, Fortaleza, existem crimes tão ou mais diabólicos como este citado. O que me chama a atenção no Rio de Janeiro, como uma megápole, é o modus operandi da coisa. Não falo do crime dos neo-escravos isoladamente. Mas toda a estrutura.

Era como se 'Rio de Janeiro' fossem realmente mais de uma cidade, mais de um mundo. Tudo muito bem estruturado e definido. Barões de um lado, escravos de outro. Escravos vivendo seu inferno e os filhos bem-nascidos dos barões sofrendo suas baixas como um sacrifício de sangue e vísceras para aplacar uma fera sedenta.

E tudo se expôe, porque a cidade foi repartida em vários meios sem campos neutros. Tudo é mídia virulenta, tudo é ultra-violento.

Mas a preocupação não é dar estruturas de vida para as pessoas carentes, não é direcioná-las a um mercado de trabalho ou um papel social, não é dar dignidade ou conforto a estas pessoas. É torturá-las, vingar-se delas. Afinal são apenas negros e paraíbas que me roubam e matam meu filho caçula.

A preocupação, a primeira delas, é BAIXAR A PORRA DA MAIORIDADE PENAL. É isto que vai RESOLVER, é isto que vai CONSERTAR a BIROSCA desta e de outras cidades. Porque não PENA DE MORTE ou EXECUÇÕES EM MASSA também? Chacinas como a da Candelária podiam ser praticadas diáriamente nos morros - afinal pra que eles, os pretos favelados servem, né?

É o velho pensamento do venha a nós e ao vosso reino nada. Resolva MEU problema AGORA, e ponto final.

E lhes digo onde está o problema:
Está no seu apartamento de 2.000.000 de reais, nos seus 4 carros importados, nos seus 3 filhos estudando na Royal University de Londres, está na sua esposa que compra Thyffany e H. Stern e vai ao Werner uma vez por semana e acha pouco, está neste luxo, desta disparidade descontrolada, nessa sonegação ÉTICA que acontece com os favorecidos. Está na super importância dada aos empregos formais, nas imunidades e vantagens dos políticos, na estrutura das grandes empresas - na mente de um povo inteiro.

A mídia gosta muito de pintar esta cena:
Cinco crianças, uma de cada lugar do Brasil, de mãos dadas, como se realmente se respeitassem e compreendessem, dando a idéia de um Brasil unido e funcional.

Sabemos que não é assim, os pretos são sempre perigosos, e os paraíbas são 'víboras' como li uma frustrada declaração pixada em uma parede paulistana.

As 'crianças' brasileiras, este símbolo de pureza, na realidade estão fechadas em seus colégios exclusivos para filhos de pessoas ultra ricas que não pagam impostos proporcionais enquanto as 'pestinhas' estão nas ruas com bicho de pé e lombrigas.

É disso que falo: É DESIGUAL, ISTO É DESUMANO!

Não é a morte de uma criança sendo arrastada que deve nos alarmar, e sim a morte, tanto física e social de várias por NEGLIGÊNCIA, APATIA E INTOLERÂNCIA.

Não vou sugerir um chega - afinal revolução é brega, e sempre é mais interessante assistir a novela das oito do que querer dar jeito no mundo. O brasileiro é um povo apático e indiferente por natureza.

Mas aqui vai meu desabafo: Calem a boca, e cuidem das suas vidas. Morreu, e a verdade é que ninguém dá a mínima se não aparece na TV. Tá na moda ter 'responsabilidade social.' Volte pra igreja, compre seu novo carro, e continue sonhando com o impossível. E vocês odiaram o nazismo.... *Hmpf*

Um comentário:

Ângelo disse...

Oi Ramir!

Partilho de sua visão em relação a levar em consideração toda nossa estrutura social onde prolifera a violância.
Um dos fatores que propicia o crime organizado é a ridícula relação jurídica penal que envolve a questão.
Como Sempre, a história muitas vezes a se repete dentro de um contexto sintético. Será que o que ocorre no Brasil e em muitos lugares não tem a ver com a experiência da "lei seca" estadunidense? O resultado foi catastrófico, criou-se uma teia de contrbando e corrupção que chegou a ser um poder paralelo oficiosamente atrelado aos agentes do estado.
Com toda essa merda, os americanos acabaram liberando o álcool, já que a Lei era inútil (pois todos continuavam a beber) e só fez crecer o crime organizado.
Um grande abraço!
Ângelo