sábado, fevereiro 03, 2007

O vício do preciosismo

Nunca fui muito adepto de simplificar as coisas. Gosto de retórica, gramática, conhecimento e criatividade. Como é de se perceber sou um grande adepto de textos longos e extremamente descritivos. O problema é que às vezes a explicação faz o próprio texto se perder. Daí eu começo a falar de música e o porquê de eu ter parado de comentar em fóruns sobre o assunto.

Eu já sei pouco, e normalmente me volto a essas discussões pra ver se aprendo alguma coisa. Mas sinceramente, a cada linha que leio fico mais confuso, e mais convicto de que a opinião de um leigo vale ouro.

Certa vez, ele, que apesar de não participar da minha jornada musical ativamente, normalmente dá a suas valiosas pinceladas sobre o assunto. E nesta 'vez' eu estava falando justamente sobre os excessos de classificações e tipificações que existem no universo vocal.

Pra quem não sabe do que estou falando, aí vai uma breve síntese do que seria o 'básico':
"Na música, os instrumentos se dividem basicamente em três categorias no tocante a 'altura' (freqüencia relativa dos sons e região sonora) - Aguda, média e grave. Igualmente acontece com as vozes humanas, criando hipoteticamente seis tipos básicos de voz, que seriam, do mais agudo (alto) ao mais grave (baixo) - Soprano, meio-soprano, (contr)alto, tenor, barítono e baixo."

Até aqui já está bem complicado: Então temos seis tipos de voz humanas. Duas mais agudas, duas médias e duas graves.

Mas não pára por aí. Cada voz, individualmente, reserva mais nuânces. Existem vozes agudas 'graves' e vozes graves 'leves, aveludadas'. Ok, isso é justo. Cada qual é único, com seus próprios talentos e super-poderes da Marvel.

O negócio é que tem gente que complica isso TANTO, TANTO que termina por impossibilitar a comunicação musical. Cada um 'acredita' nas classificações que 'quer' e todos se dão por satisfeitos. Ou ficam se degladiando por aí sobre 'coloratura' e 'wagneriano ou não'.

Então um leigo me diz: 'Eu acho que essas classificações são reais, mas uma voz não se resume a simplesmente um caráter. Acredito que se situam em um 'espaço' entre uma coisa e outra, podem exprimir tanto isso como aquilo, o que estiver 'próximo' do seu 'centro'.' Em resumo - uma única voz pode, em sua capacidade mórfica natural e criatividade do intérprete, encarnar mais de um caráter timbrístico com segurança. Como o diabo Maria Callas disse aí num desses master-classes chiques: 'Hoje em dia classificam as vozes de acordo com o que elas NÃO podem fazer. No meu tempo 'soprano' era 'soprano' e ponto final'. Ok, ela se estrepou muito por causa desse pensamento. Mas a grande pulga coloratura-wagneriana continua atrás da minha orelha.

ATÉ QUE PONTO A CLASSIFICAÇÃO VOCAL NA MÚSICA ERUDITA É VÁLIDA? ONDE ISSO SE TORNA MERO PRECIOSISMO RETÓRICO?


Impressão pessoal: Eu sou um tenor. Tenho 20 anos, logo minha voz esta ali, bem moleca. Apesar disso, minha laringe já mostra suas façanhas, e posso dizer que ligeirinho é a mãe. Mas ainda existe um 'q' de -inho na minha voz. Que se perde totalmente quando abro o gogó em canções de Schubert ou árias de operettas. Nunca senti nada errado.

E aí gente? Chega de Royal University e as teorias malucas dos gringos?

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