segunda-feira, fevereiro 03, 2014

O mundo pra mim, talvez por causa das escolhas que eu fiz - ou por causa de uma falha de caráter que parece durar desde a manhã da minha vida, é um lugar horrível.


A maldade das pessoas sempre me afetou de uma maneira diferente, com 10 anos de idade eu levei sozinho uma professora mesquinha diante da diretora por maus tratos e insultos, com 22 eu denunciei um policial militar no Rio, com 23 coloquei os pingos nos "i"a para outra professora diante umas 40 pessoas, e com 27 anos eu enfrentei a imigração francesa sozinho: escrevi a minha defesa jurídica e ataquei o pescoço de um dos sistemas mais injustos e cruéis do mundo.


A dor alheia me chama atenção, ela me comove de um jeito muito intenso - ela dói em mim como se fosse minha, e toda essa miséria faz parte da minha vida.


Finalmente existe o canto - o que isso significa na minha vida? Ora, eu não consigo me ver em plena felicidade, com viseiras de burro sem olhar pros lados. Eu não sou ninguém de objetivo, muito menos de "eficaz", eu sou essa coisa emocional que sangra, e que tenta curar o mundo com bandagens sujas de sangue: o mundo tem muita dor, muito sofrimento, e eu gostaria muito que as pessoas parassem de fingir que não.


Eu não digo isso como uma simples cobrança, mas já abri a porta da minha casa para catar no chão o que restava de alguém, e continuo vendo que as pessoas tem uma verdadeira obsessão pelo sucesso e pela paz de espírito absoluta, como uma espécie de reprodução terrena do paraíso supremo de Deus, o criador.


Enquanto não se divide o pão, enquanto não se enxuga a lágrima, enquanto não se estende a mão, e se abraça a amargura do outro sem pensar e nem julgar, nós não somos em nada diferentes do nosso pior inimigo: que ele seja a vida que nos tomou um ente querido, ou um superior que simplesmente "não tinha nada a ver com isso" ou alguém que naquele momento "não podia fazer absolutamente nada" - o que nos torna medíocres não é não ser o melhor no que se faz, mas é aceitar a vida nos tornar simplesmente alguém que só consegue olhar pra frente ou ter uma visão distorcida de si mesmo no espelho, só vemos quem deveríamos ser, e não vemos nada que se mete no nosso caminho entre o real e o sonho do super-eu...



Bom, é isso. Talvez eu esteja sempre diante de uma experiência muito ruim, mas quando vejo esse culto do sucesso, das fotos em festas, de carros, das conquistas, eu me pergunto "qual o problema de toda essa gente que vive pra fugir de todos esses pesadelos que eles me ligavam aos prantos 11 hora da noite pra pedir socorro"?


Quantos desses maravilhosos e bem-sucedidos não eram suicidas em potencial que se escondiam atrás de religião, da maconha, da amante, da academia ou do relacionamento falido?


Eu vejo que a profecia de mãe se cumpre. "Amigos são meus dentes".


Pois é. Desculpem-me todos se não tenho mais sucesso é boas notícias pra dividir com vocês. Como vocês sabem, meu sol é a lua, o que me faz existir é a angústia, e a nuca certeza que eu tenho é a dúvida.


Este grande retorno de Saturno me arrancou desse mundo real e me mostrou de uma vez por todas que não adianta eu fingir que pertenço à lugar nenhum ou à quem quer que seja.


Nasci pra ser anônimo, ou ora estar sempre chegando ou indo embora pra sempre...

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