Essa ideia de voltar pro Rio, terminar a faculdade e rever a vida que eu deixei pra trás é reconfortante, mesmo eu sabendo que tudo isso depende da decisão de uma comissão de pessoas que não me conhecem, e que tem coisa melhor pra fazer.
Mas eu me pergunto o que eu vou fazer no Rio de Janeiro... Hoje em dia eu tenho a impressão que não sobrou mais nada de mim é que eu devia "ir embora".
"Ir embora" talvez tenha sido o que eu fiz indo pra Guiana Francesa, me pergunto se intuitivamente eu já não sabia o que me esperava, e que não teria ido de propósito pra desafiar a morte.
A morte, é essa palavra pesada mesmo, a morte! Essa história de depressão faz a gente ter muitos pensamentos extremos, e faz tempo que a gangorra balança cada vez mais baixo, e depois dessa estadia na floresta, o balançado está cada vez pior.
Quando penso hoje no Rio de Janeiro, vejo um pouco uma espécie de "Montsalvat", de "Eldorado", de paraíso onde eu conseguia sorrir diariamente sem precisar fazer muito esforço.
É bobo, apesar do fato de eu viver sozinho, não fosse a presença sempre agradável dos meus alunos e todos os sonhos que eles traziam pra dentro da minha casa: uns queriam cantar no casamento da irmã, outros tinham tanta fé em Deus que precisavam cantar mais agudo, tinham uns que eram profissionais, tinham outros que cantavam melhor que eu, e tinham outros que se sentiam muito só e só queriam um pouco de atenção...
Também me fazia bem todas aquelas pessoas chiques falando de coisas chiques e de Europa durante os ensaios de concertos.
Eu sempre me disse que esse meio não era pra mim, que eu era muito lento e muito burro pra acompanhar isso tudo, mas eu acho que aceitei ficar pela companhia. Era pouca, ninguém nunca ia na minha casa, mas eu tinha essa sensação boa de fazer parte de algo, por mais que eu me sentisse mais só do que acompanhado.
A verdade é que, naquela época, a minha vida se parecia um pouco com o que eu acho que fosse a felicidade, apesar dos canoa estourados, das alergias constantes, do trabalho pesado, de ter que engolir pastor evangélico dentro da minha casa, mas isso me ocupava, eu me sentia útil pra alguém quando eu via meus alunos felizes, ou o público dizer que o concerto foi lindo, mesmo se nós fossemos extremamente mal pagos.
Voltar pro Rio, pra mim, vai ser ou seria um retorno à vida depois de dois anos de vácuo onde eu fiz de tudo pra tentar ser outra pessoa. Não dá, eu gosto muito dos franceses, mas não sou francês, e eu não gosto da Guiana Francesa nem dos problemas deles.
Espero que daqui pra agosto eu tenha força pra resolver isso tudo e que eu tenha força e coragem pra entrar no avião assim que o momento chegar.
Eu nem penso mais em fracasso, eu nem penso mais em "andar pra trás" eu só estou tentando me convencer de que existe alguma utilidade pra que eu continue respirando.
Estou muito assustado porque perdi a minha curiosidade.
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