quarta-feira, setembro 19, 2012

MANIFESTO: França x Brasil e seriedade política.


E se falando de direitos isso, direitos aquilo, estou muito descontente quando penso no Brasil em comparação a França.

Tomei um susto muito grande quando comecei a conviver com essa gente comedora de queijo, pensando que o país dos grandes pensadores na verdade era um antro de racismo e "fobias" no coração da Europa Ocidental.

Nós temos esta imagem cinematográfica de uma França aberta, acolhedora, igualitária - o caralho! A única coisa que faz a França um país mais confortável é que é menor, mais antigo e algumas leis funcionam (bem) melhor, assim como a assistência ao indivíduo em situação de risco social também me impressionou, apesar de estar longe do ideal.

Mas, no tocante a igualdade de direitos, aqui representada pelo dito "casamento gay" (união civil entre duas pessoas do mesmo sexo) eis aqui a minha posição:

François Hollande, presidente da França eleito no dia 6 de maio de 2012 (se não me engano), teve entre as suas promessas de campanha a igualdade de direitos para os casais homoafetivos, entre outras polêmicas (como uma criação de impostos sobre fortuna e um limite máximo de salário pago ao funcionário fixado em vinte salários mínimos - essas aí eu sinto cheiro de unicórnios, a briga vai ser  « ugly »).

Porém, tamanha foi a minha surpresa ao receber no dia 10 de setembro a notícia de que a Ministra da Justiça da França, Christiane Taubira (coincidentemente nascida e criada na Guiana Francesa, um lugar reconhecido pelo atraso cultural e pelo forte indício de assédio e abuso contra o homossexual) anunciou o "pré-projeto" da legalização dos casamentos homoafetivos a um jornal católico da França, o "laCroix", um mês antes da anunciação oficial.

Ela deve ser meio doida por ter começado por lá, mas talvez no instinto de provocar uma reação justamente onde a ferida mais dói, que é no nicho religioso. E pelo que parece a política é uma coisa séria entre os gauleses: Não faz aí nem um ano que o homem falou que ia casar as bichas e as sapatonas, e agora já estamos vendo a ministra nascida sob a chuva equatorial e criada a "poulet boucané" mostrando enfim que estas pessoas a quem me refiro com o jargão vulgar brasileiro, da maneira mais lúdica e despretensiosa, são levadas a sério lá.

E falando em França e seriedade, penso também no criador dos « restaurants du coeur » o humorista francês conhecido por "Coluche", que se apresentou como candidato a presidência francesa em maio de 1981, tendo desfilado vestido de noiva (e muito jeitosa, para uma baleia ou um ogro) acompanh"a" de seu noivo nas ruas de Paris, porém no último momento, este personagem "in"fame desistiu da eleição por ver que poderia ganhar, e pouco tempo depois foi encontrado morto devido a um "acidente" de moto.

Qual a questão?

No Brasil, na terra em que "Tiririca", "Maria Veneno", "Zé Bosta" ganha eleição em partido evangélico (mesmo sendo travesti, por exemplo), e onde se promete um Portal Para as Estrelas, Aquários Gigantes, ou simplesmente dentaduras, nós esperamos ANOS para ver um esboço mal-feito de uma promessa política tomar esboço.

Nesse país de um ex-presidente semi-analfabeto de nove dedos que revoluciona a política nacional a respeito das classes C e D e também das regiões norte e nordeste, ao invés dos ricos e poderosos (que hoje até dão aulas na Sorbonne), em terra em que candidatos a prefeitura de Fortaleza nem 1) são nativos e 2) nem moram no Brasil (falo do candidato evangélico Moroni), ou onde, no Rio de Janeiro, o governo no seu "choque de ordem", além de cobrir as favelas com grandes placas de fibra de vidro ou o que quer que seja, para que não as vejamos saindo do aeroporto, recolhem bicicletas "estacionadas irregularmente" por "incomodarem os transeuntes", onde um catamarã que faz um percurso de quinze minutos de um lado a outro de uma baía cobra o preço de um almoço popular por uma ida e volta, e sabendo que em Brasília quem ganha 7 mil reais é considerado pobre, e na fronteira amapaense com a Guiana Francesa ninguém tem nem renda declarada, eu me pergunto: Que diabo de país é esse?

Que diabo de país é esse em que o discurso de umas seitas inventadas há uns cinquenta anos valem mais que a seriedade e a retidão da máquina pública? Que país é esse que, com o tamanho de um continente, é mais desfuncional e mais esculhambado que qualquer fim-de-mundo do pós-guerra?

Eu sei que é muito bonito falar de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, e o Eldourado da região sul do país - mas este país não funciona porque as pessoas que não herdam a riqueza ou o saber, fazem parte de uma minoria (aqui os homossexuais) estão FUDIDAS. Não tem direito a nada!

Vejo por exemplo os brasileiros que se humilham para vir para a Guiana Francesa: Preferem correr da polícia, mas serem tratados como gente no hospital de Kourou que tentar a sorte com emprego de salário mínimo no Brasil.

Eu, infelizmente afirmo, que depois de ter visto como um país CHATO (a França é chata pra caralho) consegue ser SÉRIO e tratar o ser humano com um mínimo de dignidade, que eu não tenho mais a *menor* vontade de voltar ao Brasil.

Prefiro me humilhar pra "pedir o meu séjour" (como dizem os imigrantes que não falam nem francês nem português direito), prefiro dar uma evitada nos "gendarmes", prefiro fazer como toda essa gente que é cidadão de segunda classe nos dois países, porque, oras, no Brasil eu não sou Barão, se eu volto pra minha terra natal, é pra ter salariozinho que acaba no dia 15, se eu volto para o Rio de Janeiro, volto para a prostituição do ensino, sem direito a nada e com todos os deveres.

Estou com cada vez mais nojo do meu país por saber que por ser brasileiro eu valho mais aqui fora do que aí dentro, que eu sou mais gente aqui para esses políticos que acham que a gente fala "macacudja" e que toda brasileira é meio puta (mas no final das contas termina sendo - nem que não queira, termina sendo obrigada), mas sabendo que nosso país gosta mesmo é de uma boa "pizza" no senado (um jargão usado para denotar o fracasso da máquina administrativa que termina sem consequencia alguma) ou simplesmente, como os "nem do morro" no Rio dizem: Uma boa duma putaria.

Então, por fim, este país que finalmente os homossexuais vão começar a ter um *minimo* de dignidade frente aos milhões de irmãos brasileiros que fogem da humilhação e da perseguição no meu Brasilzão, este país de revoluções, de guerras - de de queijo, de galette, de gente caladona e meio boboca - acabou de ganhar meu respeito.

Por fim digo a vocês chateado, com lágrimas nos olhos e muito contrariado pela frase seguinte: Sou brasileiro, e se depender de mim, não volto pra essa porra é NUNCA!

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