Depois de conviver algum tempo no ambiente universitário, percebi que os estudantes de música não são imunes a preguiça - e há um fenômeno não-exclusivo da Escola de Música que poderia chamar de "alergia musical".
Até as primeiras semanas do primeiro semestre, tudo são rosas. Mas depois que você se desorganiza e deixa as inseguranças tomarem um pouco a frente, tudo que é música começa a te dar verdadeira RAIVA. Então você tira todo aquele texto bonito que colocou em "Música" no orkut, começa a esquecer seu mp3 player de propósito, ou simplesmente não ouve mais música erudita...
Estive sinceramente pensando sobre isso: conheço mais de um punhado de bons instrumentistas e cantores que parecem definitivamente não gostar de música! Eles chegam, fazem o que tem que fazer, e depois nem sequer falam sobre isso. Então a música deixa de ter o seu propósito fundamental que é a catarse. Se torna uma profissãozinha, um estudinho barato e medíocre.
Quando percebi que estava me tornando um desses, eu não raciocinei muito e deixei rolar. Eu também estava de saco cheio daquela porra toda. Meio que a música se torna isso: Harmonia, percepção, formas... Vira um conjunto de cadeiras de faculdade. E uma coisa especialmente sem sentido: Você está estudando aquilo tudo (que não é fácil) pra depois se juntar com outras pessoas e organizar todos aqueles sons pra fazer alguma coisa. Mas o quê? Pra que diabo serve isso?
Eu não me atrevo a responder. Só não custo a dizer que esses dias fui questionado por alguém importante, e essa pessoa me perguntou "não foi isso que você escolheu fazer?" Por que diabos eu escolhi isso? Só por que eu me considero bom? Só por que eu acho que tenho "talento"? Não - eu gosto de música. Algumas vezes eu deixava um pouco de falar nisso porque ficava constrangido na frente dos colegas da faculdade, que infelizmente já tinham se tornado mesquinhos, e eu ainda não.
É realmente importante não deixar a ingenuidade, se faz algo porque se gosta disso, e algumas vezes isso nos expôe mesmo. Antes de querer ser um profissional em música, eu quero ouvir muita música, e curtir bastante. Acho que isso é no final das contas o que importa. É esse o prazer. Não é ter a melhor leitura ou a melhor técnica, é estar bem com o que se faz - e nunca deixar que nada seja capaz de transformar algo tão sublime em chacota ou profissãozinha, ou algo que te distancie de quem as pessoas realmente são.
Me metido com música porque gosto de ouvir concertos, gosto de textos clássicos, gosto de literatura, de poesia, gosto dessa merda toda, e nunca vou deixar de carregar isso no meu mp3 player (na realidade é um celular) e nunca fui fã de música eletroacústica. Era alvo de chacota antigamente por causa disso, e continuo sendo anos depois. Odeio MPB, odeio bossa nova, odeio pop rock, essas caralhadas todas me dão coceira. Ultimamente, só depois de ter começado a estudar música que comecei a descobrir um prazer em ouvir isso. Engraçado, diziam que era o contrário...
Quando se é exigido "seja bom", a gente esquece disso. Se você esquecer mesmo, melhor nem continuar insistindo - isso definitivamente não faz o melhor profissional de qualquer forma...
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