Como algumas pessoas fazem idéia, no último fim-de-semana do mês passado, eu me submeti, pela primeira vez, ao teste de habilidade específica pra música na UFRJ.
Ouvi todo tipo de absurdos sobre o terrível T.H.E; o bicho papão, a grande peneira de quem sonha num canudinho recheado com o mero título de musicista. Queria dizer que vale mais que isso, porém não me atrevo, a citação não vem de mim, e sim de um músico graduado.
A parte mais desgastante do teste, na realidade, é a semana anterior e a semana seguinte. Os dois dias do teste propriamente dito são chatinhos. Pelo menos pra mim foram, meu nome começa com "R" e eram nada menos que trezentos e tantos inscritos pra todos os cursos, e nada menos que cinquenta e quatro inscritos pra bacharelado em canto.
Foram quatro horas esperando a p* daquela gente toda ir cantar pra chegar a minha vez. Me pergunto se realmente haviam 54 pessoas conscientes do que é estudar música e trabalhar com isso. Gosto da sensação de estar fazendo parte de um contingente que talvez venha a consquistar mercado fixo no Brasil, e fazer parte definitiva do nosso quadro artístico.
Apesar disto contrastar com o que eu vi por lá, na espera pela prova.
Vi muita gente achando que ia cantar no Fama, achando que romântico é Djavan, e que clássico é aquela Ave Maria que a Sarah Brightman canta. Também vi muita displicência durante as provas de teoria e certas atrocidades em técnica vocal (repertório erudito, técnica belter. Como diz o Malafaia "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"...)
E ainda assim eu me sinto ameaçado. O resultado não saiu, estou na expectativa de passar ou não... E fico conjecturando - será que algum desses caras que foi tentar pra bacharel, sem nem ter pianista correpetidor, passou no teste e eu não vou passar?
Não gosto de me colocar como estudante de música exemplar --- na realidade eu me considero bem subversivo em comparação ao perfil "nascido para Puccini" ou "reencarnação tupiniquim de Mozart". Eu tenho nojo desse povinho que se leva muito a sério. Mas alguma coisa de sério a gente tem que ter (menos essa parte mitológica ultraromantizada de ter nascido com um dom especial, e de que a música é divina. Isso é tão humano quanto vontade de ir ao banheiro. O que não faz da música uma ciência menos bela que qualquer outra).
Se tem um dom que eu acho que qualquer candidato a musicista deve ter, é o dom da paciência. A música é como uma mulher frígida - demora pra dar alguma coisa. E muito. Então há pessoas que se iludem e convencem a todos que conseguiram muito com ela - quando não é verdade.
Tenho alguns conhecidos músicos, e não poucos entre eles desistem da carreia por não saberem estimular a musa a um bom retorno financeiro.
Então penso se entre aqueles 54 candidatos pra bacharelado em canto, haviam alguns que estavam prontos pra aula em período integral, faculdades defasadas, mercado difícil, grandes exigências, muito trabalho... Muito esforço pra pouco retorno.
Até hoje me pergunto se esta foi uma boa escolha. E tenho a impressão de que se eu não estiver matriculado em um curso superior de música vou continuar cuspindo lixo e dúvidas por um bom tempo. Ou mesmo se estiver cursando.
Mas aí vai uma verdade: Queridos amigos estudantes - não deixem suas cidades natais para cursar música. Se for medicina, até vale a pena. Mas música sái mais caro que sustentar puta.
Um comentário:
E aí? Afinal vc passou ou não no THE?
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