quarta-feira, março 14, 2007

Reflexões sobre o Ideal

Ideal.

Cinco letrinhas e um ponto bonitinho, cretino também. Quando vejo grandes números de pessoas gosto de ficar pensando sobre o que elas pensam, e divagando sobre porque elas fazem o que fazem. E eu incluso no pacote, claro.

Não que me considere Freud, (apesar de também ser taurino - sofro desta mácula), mas acredito na capacidade da observação e da síntese. E tenho observado uma coisa interessantíssima sobre 'ideal'.

Lê-se e consome-se muito a idéia de uma estrutura perfeita, seja o que for: Afetiva (a primeira, quase sempre), financeira, espiritual, social, física... Tudo na mídia e nas artes gira em torno do refinamento, do perfeccionismo da situação humana - tendo esta como sempre incompleta e desejosa de algo irrealizável, lááá em cima.

O ideal é ter sempre dinheiro, é se relacionar com pessoas simultâneamente estáveis e criativas, é ter noções e oponiões que não existem em contradição; é ser você mesmo, mas ser sempre diplomático e saber respeitar a boa vizinhança, é ter orgulho mas não ser soberbo; é ter fé, mas ser racional.

Enquanto vejo as pessoas buscando se lapidar para o Alto, presto atenção também no que acontece entre este processo e a realidade que encaramos. O fato é que a perfeição, este ideal de mundo e humanidade impecáveis, é um conceito quase matemático, de tão hermeticamente impraticável que é.

Em algum ponto, para fazer o que se tem consensualmente como um bem, nós precisamos ser cretinos, falsos, violentos, usar de hipocrisia, manipulação de influência, sentimentos alheios, e todo um conjunto de coisas que são consideradas erradas. E por favor, não me diga que você não vê a relação entre um bem (maior, menor, XG, PPP, tanto faz) e, por exemplo, as famosas "mentirinhas de nada" ou mesmo o famoso "sacode-leão" (essa coisa de você ser bem violento verbal ou fisicamente com alguém que você realmente deseja que ouça o que você está dizendo e acredita ser o certo). Isso é ser bem ignorante e aquém a nossa própria existência.

A condição humana em si já começa como uma caixa de contradições infinitas, malucas. E eu acredito piamente que a busca desesperada por um ideal de perfeição totalmente simétrico e linear descreve a decadência total da harmonia do homem com a própria existência.

Não que se deva render à entropia todo o tempo, e deixar que as coisas aconteçam aleatoriamente, com os humores do sangue ou da lua; mas buscar ser o que não se é, e ter o que não se pode ter, às vezes, é mostrar com muita evidência a nossa triste incapacidade de aceitar como é bom ser quem se é e estar onde (e com quem) estamos.

O problema é quando a gente sái da moda, né?

Deus está no Céu, e o Diabo está nos detalhes...

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