quinta-feira, março 20, 2014

Bom, realmente, tem hora na vida que a gente realmente precisa ser muito forte. A minha cabeça já estava cheia quando toda essa confrontação com a morte começou. Parei de trabalhar lá no Inferno Verde (vulgo Guiana Francesa) graças à um atestado médico de um sujeito muito compreensivo que viu que eu já estava aí me arrastando.


A volta pra lá está sendo como uma queda livre: agüentar três meses lá não vai ser uma das tarefas mais fáceis, e hoje eu só queria realmente não estar só, queria um abraço, um beijo de boa noite, eu queria uma frase de "tudo vai ficar bem" por mais hipócrita que ela fosse.


Caos. É disso que a minha cabeça está cheia. A corrida pelo sucesso termina, a corrida pela felicidade começa, e todas as estrelinhas e pessoinhas pequenas cheias de lições de moral e interesses que vão se fuder, mas se fuder gostoso... 

Que fim de tarde triste. Cá estou eu rodopiando dentro desse ônibus indo embora do Rio de Janeiro.


Acabo de passar do lado do Consulado Geral da França no Rio de Janeiro e me lembro de como está saída pedregosa começou: colaram um visto no meu passaporte que tinha só uma semana de vida e eu fui embora procurar a vida em outro lugar.


As pessoas estão sempre me dizendo que o Rio está horrível, e está mesmo: violência, drogas, caos, desigualdade social... Mas o que vocês querem que eu faça se eu preciso ser feliz? Tentei ganhar dinheiro, não gostei. Tentei ser outra pessoa, não gostei. Eu gosto de cantar e dar aula, posso talvez fazer um concurso público pra carimbar coisas e pagar minhas contas, mas eu preciso viver onde eu esteja feliz.



Não tem como abrir negócio no Rio por conta dos lobbies e da corrupção, não tem como ter emprego de carteira assinada, e nas óperas da faculdade, que não haverão, também não poderei cantar (desde a audição que eu passei e anularam tudo, percebi que eu não estava lidando com uma situação favorável).


Mas vamos lá: o lento retorno à uma casinha simples num bairro de gente humilde onde quer que seja nessa cidade que respira crack, caos e fé em Deus.

"Wanderlust" ou "mal du pays"?


Os viajantes me entenderiam que em cada descoberta que fazemos deixamos um pedaço do nosso espírito com os sonhos que dividimos com as pessoas.


Os lugares, pouco importam, mas as pessoas são o motivo que nos faz atravessar os mares, cruzar as fronteiras, descobrir o esplendor da natureza e das construções do homem. Mas os lugares, estes pouco importam - o que importa são as pessoas.


Fortaleza, Crato, Niterói, Rio de Janeiro, Paris, Bordéus, Lyon, Beauvais, Canny-sur-Thérain, Ruão, Basiléia, Caiena, Matoury, São Lorenço do Maroni, Regina, São Jorge do Oiapoque, Oiapoque, Remire-Montjoli... São tantas ruas, tantas esquinas, tantas saídas, tanto asfalto e pista e pedra e cabos elétricos, mas sem as pessoas, são só lugares. E os lugares não tem importância.


Viver em movimento é viver em meditação, é viver vendo o presente desfilar em alta velocidade sem que possamos parar pra olhar pra um momento sem que o mesmo já tenha ficado em outro lugar, com outro alguém que talvez não revejamos mais.


A viagem é uma analogia da morte, é uma imitação da roda da fortuna que gira e nos deixa ébrios de tanta humanidade e tantos lugares.


Mas os lugares não são importantes se não tivermos com quem nos maravilhar do canto de um pássaro ou do vermelho do poente, os lugares não são nada - só o que resta são as saudades...

segunda-feira, março 10, 2014

Essa ideia de voltar pro Rio, terminar a faculdade e rever a vida que eu deixei pra trás é reconfortante, mesmo eu sabendo que tudo isso depende da decisão de uma comissão de pessoas que não me conhecem, e que tem coisa melhor pra fazer.


Mas eu me pergunto o que eu vou fazer no Rio de Janeiro... Hoje em dia eu tenho a impressão que não sobrou mais nada de mim é que eu devia "ir embora".


"Ir embora" talvez tenha sido o que eu fiz indo pra Guiana Francesa, me pergunto se intuitivamente eu já não sabia o que me esperava, e que não teria ido de propósito pra desafiar a morte.


A morte, é essa palavra pesada mesmo, a morte! Essa história de depressão faz a gente ter muitos pensamentos extremos, e faz tempo que a gangorra balança cada vez mais baixo, e depois dessa estadia na floresta, o balançado está cada vez pior.


Quando penso hoje no Rio de Janeiro, vejo um pouco uma espécie de "Montsalvat", de "Eldorado", de paraíso onde eu conseguia sorrir diariamente sem precisar fazer muito esforço.


É bobo, apesar do fato de eu viver sozinho, não fosse a presença sempre agradável dos meus alunos e todos os sonhos que eles traziam pra dentro da minha casa: uns queriam cantar no casamento da irmã, outros tinham tanta fé em Deus que precisavam cantar mais agudo, tinham uns que eram profissionais, tinham outros que cantavam melhor que eu, e tinham outros que se sentiam muito só e só queriam um pouco de atenção...


Também me fazia bem todas aquelas pessoas chiques falando de coisas chiques e de Europa durante os ensaios de concertos.


Eu sempre me disse que esse meio não era pra mim, que eu era muito lento e muito burro pra acompanhar isso tudo, mas eu acho que aceitei ficar pela companhia. Era pouca, ninguém nunca ia na minha casa, mas eu tinha essa sensação boa de fazer parte de algo, por mais que eu me sentisse mais só do que acompanhado.


A verdade é que, naquela época, a minha vida se parecia um pouco com o que eu acho que fosse a felicidade, apesar dos canoa estourados, das alergias constantes, do trabalho pesado, de ter que engolir pastor evangélico dentro da minha casa, mas isso me ocupava, eu me sentia útil pra alguém quando eu via meus alunos felizes, ou o público dizer que o concerto foi lindo, mesmo se nós fossemos extremamente mal pagos.


Voltar pro Rio, pra mim, vai ser ou seria um retorno à vida depois de dois anos de vácuo onde eu fiz de tudo pra tentar ser outra pessoa. Não dá, eu gosto muito dos franceses, mas não sou francês, e eu não gosto da Guiana Francesa nem dos problemas deles.


Espero que daqui pra agosto eu tenha força pra resolver isso tudo e que eu tenha força e coragem pra entrar no avião assim que o momento chegar.


Eu nem penso mais em fracasso, eu nem penso mais em "andar pra trás" eu só estou tentando me convencer de que existe alguma utilidade pra que eu continue respirando. 


Estou muito assustado porque perdi a minha curiosidade.

domingo, março 09, 2014

"For the bible tells me so" est l'un des documentaires les plus beaux et inspirateurs que je n'ai jamais vu. On y montre la pensée chrétienne américaine (qui est d'ailleurs une bonne métaphore de l'occidental et du monde entier, peut être) en clash face au "problème gay".

J'ai 27 ans, et il y a au moins 15 ans j'ai arrêté de faire semblant qu'il y avait une partie de moi qui "n'était pas censée d'y être" et dans ces 15 de discutions acharnées, drames, une vie double (ou triple), de disparaître de la vie des autres, de demander à Dieu qu'un miracle vienne pour tout changer, je peux dire que je sais comment la discrimination interne et externe peut vous faire du mal.

Quand vous êtes gay ou lesbienne ou transsexuel(le), vous n'êtes pas capable de "rester neutre", la vie vous oblige de prendre partie consciemment de votre rôle dans la société: Soit vous décidez de faire semblant qu'il n'y a absolument aucun problème et vous vivez avec une sorte de cancer spirituel, ou vous, dans un acte de folie et courage colossale, vous vous dites que celle-là est la vérité, que vous n'allez pas présenter une copine à votre famille, que vous n'aurez pas de fête de mariage à l'église et que si vous aurez des enfants ce ne sera pas comme aux comédies romantiques de la télé - c'est très dur. 

C'est vraiment très dur, mais ce qui est pire, des fois, c'est de remarquer comment les gens que vous estimez, aimez, respectez, n'arrivent pas à voir cette souffrance omniprésente chez vous que vous avez maîtrisée pendant toute votre vie par honte ou pour ne pas gêner ou agacer les autres avec vos "problèmes abominables".

Si vous êtes d'un naturel sociable, vous vous enfermez, vous perdez toutes vos couleurs, vous cherchez à ne pas vous habiller ou coiffer de manière exubérante, vous essayez de "mériter le respect" et se fondre avec la masse pour que personne vous fasse du mal, mais finalement cela vous arrive...

Le poste que vous perdez, l'appartement que vous n'arrivez pas à louer, la dette qu'on ne soldera jamais avec vous, le coup de poing, la bousculade, le coup de tuyau en fer, le gobelet de bière dans le visage, le caillou qu'on vous balance... Tout cela parce que vous êtes un homme gay.

N'oublions pas que je suis blanc et j'ai un 1,84m ! Je n'ai aucune idée de la difficulté vécue par une femme lesbienne ! Encore moins d'être lesbienne et noire ! Et pour les transsexuel(le)s ? Quel genre de personne peut supporter de se faire mal-traiter et humilier 24/24h tout simplement être qui il ou elle est ? Combien de gens arrivent à garder le sourire et avoir de la foi en l'humanité en étant entièrement rejetés pour tous, ne pas avoir un emploi fixe, de la famille, ne pas pouvoir aimer ou être aimé sans être automatiquement jugé comme un(e) tordu(e) ? Et tout cela pour le simple fait d'être soi-même ?

Je comprends qu'il y ait beaucoup de gens qui baissent les bras. Je comprends qu'il y ait des personnes qui entèrent la vérité dans le coin plus profond et sombre de leurs âmes et vivent consommées par la culpabilité et la confusion - des fois du à des sacrifices importants - tels que le rêve d'avoir une famille "normale", jusqu'à ce que la vérité explose comme une bombe nucléaire sans laisser des survivants.

Dieu, la Nature nous a faits ainsi. Il n'y a pas de force de la nature qui puisse être maîtrisée sans qu'il y ait des conséquences, c'est alors que chaque homo ou transsexuel se pose la question suivante : "Qui veux-je pour ennemi juré ? Toute la société ou cette 'force étrangère' chez moi ?"

Notre combat pour "se caler", "se retrouver", "s'accepter", ou comme veulent les pasteurs-dieux-députés chrétiens veulent "tolérés", à la façon d'un brigand qu'on est obligés de laisser en liberté, est une lutte journalière.

Je sais bien que le 8 mars on fête la journée internationale de la femme, le jour des 55% invisibles de la société, mais j'aimerais attribuer le 9 mars à tous les autres "restes", tous ceux qui sont à la base de la chaîne alimentaire humaine et qui se battent tous les jours pour comprendre "pourquoi eux", tous ceux qui doivent "être sages" devant les autres pour ne pas se faire punir car ils ont accepté le "pêché abominable", et à tous ceux qui sont "celles" et à toutes celles qui sont "ceux".

Courage ! Il y a beaucoup d'amour pour vous au monde. N'oubliez pas que chaque fois que malheur vous arrive, c'est parce que les gens ont peur, ils sont innocents, ils ne savent pas ce qu'ils font...

https://www.youtube.com/watch?v=es2hzyjywnE
"For the bible tells me so" é um dos documentários mais inspiradores e bonitos que eu já vi na vida. Ele discute como o pensamento cristão americano (que é uma boa metáfora pra todo o ocidente, e talvez mesmo o resto do mundo) se choca com o "problema gay".

Eu tenho 27 anos, e há pelo menos 15 anos eu parei de fingir que tinha um pedaço de mim que "não devia existir", e nesses 15 anos de discussões, dramas, vida dupla, tripla, sumir da vida das pessoas, pedir pra que um milagre acontecesse e tudo mudasse, eu posso dizer que sei como é viver a discriminação interna e externa, e o que isso pode fazer com você.

Quando você é gay ou lésbica ou transsexual, você não consegue simplesmente "ficar neutro", a vida te obriga à tomar uma posição consciente sobre o seu lugar na sociedade: Ou você finge que não tem absolutamente nada acontecendo e vive com esse tipo de câncer espiritual, ou você, num ato de coragem e de loucura enorme resolve dizer pra você mesmo que aquela é a verdade, que você não vai apresentar uma namorada pra família, que não vai ter festa de casamento na igreja, e que se você tiver filhos, não vai ser como na novela das oito - é muito duro.

É realmente duro, e o mais duro é ver como, às vezes, pessoas que você admira, ama, respeita, não conseguem ver esse sofrimento que você escondeu toda a sua vida por vergonha, pra não incomodar ou irritar as pessoas com os seus "problemas abomináveis".

Se você for de natureza sociável, você se fecha, perde todas as suas cores, não procura se vestir nem se pentear de maneiras exuberantes, você tenta "se dar o respeito" e se fundir com a massa pra que ninguém te faça mal, mas finalmente acontece...

O emprego que você perde, o apartamento que você não consegue alugar, o calote que você toma, o soco, o empurrão, o golpe de cano de ferro, o copo de cerveja na cara, a pedrada na cabeça... Tudo isso pelo simples fato de você ser um homem gay.

E isso tudo porque eu sou branco e tenho 1,84m! Eu não tenho a menor idéia de como deva ser difícil ser uma mulher lésbica! Menos ainda ser lésbica e preta! E os transsexuais? Que tipo de pessoas suportaria ser humilhado diariamente 24 horas por ser quem se é? Quantas pessoas conseguiriam guardar o sorriso e ter fé na humanidade sendo completamente rejeitadas por todos, não ter emprego, família, não poder amar e ser amado sem ser automaticamente julgado como um@ depravad@? E isso tudo por ser simplesmente quem se é?

Eu entendo que existam muitas pessoas que desistem. Eu entendo muitas pessoas que enterram a verdade no mais profundo das suas almas e vivem sendo consumidas pela culpa e pela confusão - às vezes fazendo sacrifícios importantes - como o sonho de ter uma família "normal", até que a verdade explode como uma bomba nuclear, sem deixar sobreviventes.

Deus, a Natureza nos fez assim. E nenhuma força da natureza pode ser controlada sem que haja consequências, então todo homossexual ou transsexual, um dado momento da sua vida se faz simplesmente a seguinte pergunta: Quem eu quero ter como inimigo? Toda a sociedade, ou essa "força estranha" dentro de mim?

A nossa luta é um combate diário pra tentar "se encaixar", "se encontrar", "se aceitar" e ser aceitado, ou como querem os líderes-pastores-deuses-deputados simplesmente "tolerados", como qualquer mal-feitor que somos obrigados à deixar em liberdade.

Eu sei que ontem foi o dia da mulher, o dia dos 55% invisíveis da nossa sociedade, mas gostaria de dedicar o dia 9 de março à todos os outros "restos", todos os outros que estão na base da cadeia alimentar humana e que lutam todo santo dia pra entender "por que eles", todos aqueles que precisam "ser bons meninos e meninas" na frente dos outros pra não serem punidos por terem aceitado o "pecado abominável", todos aqueles que são aquelas, e todas aquelas que são aqueles.

Tenham força, tem muito amor pra cada um de vocês no mundo. E não se esqueçam que sempre que algo ruim acontecer com vocês, é que as pessoas tem medo, elas são inocentes e não sabem o que fazem...

https://www.youtube.com/watch?v=RSkUAx-IY6I

terça-feira, março 04, 2014

A sensação de ser um vetor de caos, confusão e sofrimento: despertar esperanças em todos e não ter nenhuma. Eu não quero a morte por não querer mais viver, mas tenho medo do que a minha existência possa continuar fazendo contra os que me apreciam. As mãos pesadas, as lágrimas secaram, é uma dor deslocalizada... Eu não aguento mais viver.