domingo, dezembro 30, 2012

Fim do mundo

A minha vida teria sido mais fácil se eu tivesse feito as escolhas erradas. Hoje eu poderia ser um concursado hétero, e talvez até com filhos, como todos os ex-gays que preparam com o máximo de agilidade a sua descendência, talvez com medo de morrerem antes de poder vê-la. Além disso poderia ter conseguido um emprego na prefeitura de Niterói, ter continuado no Rio de Janeiro, ou qualquer coisa assim, mas preferi escolher o vazio. É escura e enorme a minha constatação de como somos vazios, nós, os homens. Somos como qualquer bicho que morde, arranha e machuca, e depois desses oito anos seguidos de materialismo confirmo que o mundo dos homens não é um lugar muito bom; não é bom viver nas paixões desse mundo, não é bom amar nada aqui, tudo é feito de areia e sal, tudo termina por se esfarelar, e a nossa centelha eterna (que não existe, pois a gente morre depois de morrer) viaja com o vento no esquecimento azul e frio do tempo que costura a eternidade.

O meu mundo acabou. O meu mundo de aliados, o meu mundo de fé, o meu mundo de dividir e não se apaixonar pelo que acaba e pelo que não me pertence, tudo isso se foi, e se foi pra bem longe - pra onde será que foi? Se foi pra onde não tem mais eu, no lugar no meio do universo onde todas as coisas são possíveis e nenhum olho pode ver, nenhum ouvido pode ouvir. Se eu ainda tivesse tanto fogo no coração poderia chorar ou gritar, mas não consigo. Sinto que aquela história sobre as linhas da minha mão pode ser verdade, o que significa que posso esta vivendo os últimos anos da minha vida, uma vida curta como a do meu pai, que também se acabou prevista e predizida, a minha pode-se ir assim, mas especialmente porque não tenho vivido bem. Procuro, vasculho, reviro, e não consigo encontrar um pouco de contentamento, esse mundo não tem lugar pra mim, e eu nele não tenho motivação, não tenho esta felicidade de homem branco.

Já vi um bocado de como as coisas são aqui e ali, mas não gostei. Muito materialismo, muita segregação, muita ausência e muito de muito pouco pra muita gente. Toda herança que estou tendo disso tudo é muita raiva, muito rancor, muito silencio e talvez um mistério terrível que eu esteja preparando sem saber. Pode ser que eu, como os animais, procure uma morada quieta para dar o meu ultimo suspiro. E ultimo suspiro por quê? Por que não tenho muito o que ver... O mundo é só um lugar grande com lugares diferentes de situações e pessoas que se repetem.

Quantos sóis, quantas luas e quantas estrelas os meus olhos de carne vão ver até que tudo seja escuro?

"In fernem Land..."