domingo, julho 24, 2011

O reflexo é o registro da verdade no momento. Refletir é o ato de discutir a verdade com ela mesma.

segunda-feira, julho 18, 2011

Esse blog é praticamente meu psicólogo. Já que não tenho coragem de conversar essas coisas com ninguém, melhor falar pro blog. O blog me entende.
Fala-se que os anjos ensinaram as ciências aos homens, e que a inteligência é um dom divino, mas eu acho que o responsável pela ciência é o caos, e a inteligência é fruto do mal. Isto não é uma afirmação satanista, já que a inteligência tem sido um dos atributos que mais me mantém caminhando...

Mas o causador da inteligência é o desafio, o inimigo. Digo que a inteligência me acompanha, e em mim, funciona. Mas talvez os outros atributos... a calma, o sossego... Nenhum. Vivo em pé de guerra comigo mesmo, lutando contra meus pensamentos e emoções que tentam me ditar o ar que respiro e os dias em que ando ou paro...

Isso seria o mal? O mal...

O que poderíamos fazer sobre isso? O que fazer sobre os limites, as dúvidas, as escolhas, os erros e todos os anseios nesse mundo? Me pergunto se consigo sobreviver neste mundo com tanta tensão e frustração ao meu redor. Talvez eu tenha sido bem preparado pra lidar com as frustrações, com aulas práticas e teóricas... mas algo não funcionou... Ou não funciona. Como se eu precisasse de reparos.

Estou me sentindo gasto, velho, usado, esgotado e frágil. Preciso de férias. E espero que resolva...

terça-feira, julho 12, 2011

A montanha mágica

Há muitos e muitos anos, um forasteiro sem passado, muito buscando conforto, saiu de um pântano e mudou-se para uma montanha que ele havia descoberto com sua coragem e sua despretensão. Ao descobrir a montanha, não se surpreendeu o viajante, mas com o passar do tempo, o viajante havia percebido quão calma era esta montanha, quão dóceis e meigos eram os pássaros que ali habitavam. Além das aves, abençoados eram todos os mamíferos e plantas que regozijavam-se em humilde equilíbrio entre si e as forças tremendas que os circundavam.

E as luas em que o viajante viveu sob a sombra das árvores, e sob a força sutil e constante da montanha, o viajante desfrutou de paz, de consolo e conforto. Todos os carinhos e generosidades da montanha se desenrolavam sob o viajante que se perdia em tamanho aconchego - dos pássaros lhe vinha a beleza e o canto, das árvores e das pequenas bestas, o alimento, da montanha, a proximidade com a lua e o sol, e das águas mornas que dali jorravam, a limpeza e o bem-estar. Tudo era calmo, e tão quieto como fosse um paraíso tão almejado pelo viajante. Havia ali o caminhante encontrado o paraíso.

Mas algo estava errado. O viajante vivia em clausura na bela montanha... Via de longe os pequenos seres vivendo em sua perambulação pelo mundo, via as outras pessoas e as outras formações naturais em seu constante estado de vissicitude, via o caos, tão divino e violento, acontecer nas entranhas do mundo. E então o viajante sofreu.

Mas como poderia, com tanto frescor e conforto o viajante sofrer?

As águas mornas o mimavam, a relva macia o enfraqueceu, e a abundância de tudo que era necessario e primario o deixou preguiçoso. E então o viajante começou a culpar a montanha por si mesmo. Por tudo que ele poderia ter conhecido e não conheceu. Poderia ter conhecido o mistério e a dor do deserto, a profundeza e o terror do fundo do mar, ou mesmo as tão honestas e simples planícies... A vida era uma montanha escura, de mata fechada, e tantos odores comestíveis... Tudo era fácil, tudo era perto, a montanha era um ciclo fechado dos mesmos dias e noites. O sol passava a incomodar, a lua era uma lâmpada cinza e sarcastica. Quando mesmo num dia de lua, o viajante fugiu, sem que a montanha soubesse, ou os pássaros que ali habitavam percebessem.

Na manhã seguinte, o viajante não sabia onde estava. Estava em qualquer lugar. Triste, sujo, mal alimentado e sedento. E então o viajante chorou, e se arrependeu, e quis olhar para a montanha, que agora era pequena, e de onde ele estava não se ouviu, pois, o triste canto dos pássaros, ou o mudo clamor das folhas escuras que caiam no chão, como que esperassem ser pisadas pelos pés macios do viajante que agora era de novo o viajante.

O viajante ainda está caminhando... hora pela beira-mar, hora pelas profundezas de outros pântanos. E não há maior mistério que o do deslocamento. Não se sabe para onde vai, mas a bênção e a maldição do viajante é a sede pela privação, a constância da dor e da experiência que faz com que tudo seja maior.

O amor ainda existe, mas se a viagem para, o viajante não existe mais.
O amor, e a dor, e todos os tipos de sentimentos que nos lembramos no final, antes de não existirmos mais...